Os indicadores de saúde da criança de uma dada comunidade refletem o estado de saúde de toda a sua população. Como ela depende do cuidado de outros indivíduos para ter um desenvolvimento saudável, são necessárias políticas públicas que permitam às famílias cuidar de seus filhos. A forma de cuidado à saúde das populações pode ser identificada a partir da observação dos modelos de atenção em saúde. Com a criação da Estratégia Saúde da Família, esperava-se transformações em relação à oferta e à organização dos serviços, o que no cotidiano há a percepção que não ocorre. Esse estudo busca analisar a percepção de profissionais das Unidades de Saúde da Família quanto ao cuidado à saúde de crianças e adolescentes nesse nível de atenção em Marilia/SP, com identificação das dificuldades e potencialidades. Trata-se de estudo analítico, de campo, de abordagem qualitativa. Como referencial teórico foi utilizada a Teoria das Representações Sociais, de Moscovici. Foram selecionadas duas unidades de cada uma das quatro regiões da cidade, considerando as maiores proporções de crianças e adolescentes na população adscrita. Discutimos as representações dos profissionais nos temas e subtemas identificados: fluxo de atendimento: cuidado imediato e continuado, público-alvo, adesão; trabalho em rede: especialidades, relação com outros serviços de saúde, intersetorialidade; capacitação profissional: integração entre instituições de ensino e serviços de saúde; processo de trabalho: relação com a gestão, atuação multiprofissional, infraestrutura, sentimentos dos profissionais; estrutura socioeconômica e cultural; modelo de atenção primária: educação em saúde, corresponsabilidade, vínculo. As principais dificuldades ao cuidado relacionaram-se às atitudes da população e à outros níveis de atenção. Responsabilizar essencialmente a população pela falta de adesão pode colocar o profissional de em posição passiva, como se esse tivesse função exclusivamente técnica, e desvaloriza aspectos de gestão em saúde, educação permanente, atenção ao cuidado coletivo e estabelecimento de vínculo para resolução das necessidades de saúde e busca de melhor adesão dos pacientes. Também restringe o papel da estrutura socioeconômica e suas influências nas características e hábitos das pessoas. Ressaltamos que as ações dos profissionais da rede primária de atenção estão vinculadas a gestão externa centralizada no município, a qual é influenciada por aspectos políticos que também determinam o processo de trabalho
dos profissionais, não sendo os mesmos totalmente autônomos para o cuidado em saúde na sua área de abrangência. Outras limitações incluem falta de tempo, infraestrutura deficitária, falta de recursos econômicos e humanos, cobrança de resultados quantitativos. Como representação no processo de trabalho, destaca-se a equipe de saúde sendo o principal ponto positivo no cuidado. As representações focaram em aspectos individuais, com pouca consideração da estrutura socioeconômica e suas influências no contexto da organização da saúde pública, e pouca valorização de atividades educacionais para os profissionais como facilitadoras para resolução de problemas e melhorias